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    Mastocitomas, grau e avaliação: Tratamento cirúrgico

    Os mastocitomas em cães são um problema relativamente comum que requer um diagnóstico precoce e uma cirurgia agressiva. Analisamos a graduação histológica como forma de prever a sua evolução e comportamento após a intervenção cirúrgica.

    O mastocitoma canino é um tumor maligno da pele e do tecido subcutâneo. É um dos neoplasmas cutâneos mais comuns nos cães, com uma incidência de 7 a 21%. Costuma surgir aos 8 anos e é mais frequente em raças como o Boxer, o Bulldog, o Bullmastiff, o Pitbull, o Labrador, o Golden Retriever, o Teckel e o American Staffordshire.

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    No momento do diagnóstico, muitos cães já apresentam metástase num linfonodo regional ou distante, sobretudo no fígado ou baço. Embora os progressos nas técnicas diagnósticas tenham permitido conhecer melhor este tipo de tumor, o seu comportamento biológico variável dificulta a previsão da sua evolução, da qual dependerá a seleção do tratamento.

    Graduação histológica do mastocitoma canino para prever a sua evolução

    O grau histológico de malignidade tem sido um fator-chave para classificar os mastocitomas cutâneos. Historicamente, tem-se utilizado a classificação de Patnaik 1 para prever a evolução do mastocitoma em cães. De facto, esta classificação prevê de forma fiável a evolução dos mastocitomas de grau I e III, mas não a dos de grau II, e muitos destes apresentam um comportamento biológico agressivo.

    Sabattini S et al2 propôs uma nova classificação (Kiupel) que divide os mastocitomas em dois grupos: grau baixo e alto. Estes investigadores utilizaram os dois sistemas para avaliar o grau histológico de 137 mastocitomas cutâneos extirpados cirurgicamente e a sobrevivência.

    Segundo o sistema Kiupel, todos os mastocitomas de grau I foram considerados de grau baixo e todos os de grau III foram de grau alto. De entre os mastocitomas de grau II, 85,6% foram classificados como de grau baixo e 14,4% de grau alto, com uma probabilidade de 1 ano de sobrevivência de 94 e 46%, respetivamente.

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    Esta nova classificação tem um alto valor prognóstico, já que permite prever corretamente os resultados negativos de alguns mastocitomas de grau II. Segundo a mesma, um mastocitoma de grau alto deve cumprir, pelo menos, um destes critérios em 10 campos de grande ampliação:

    • 7 figuras mitóticas
    • 3 ou mais células multinucleadas
    • 3 ou mais núcleos anormais (atípicos, segmentados, irregulares)
    • Cariomegalia, com, pelo menos, 10% das células neoplásicas com núcleos que duplicam o seu tamanho normal

    O tempo médio de sobrevivência é de 2 anos para os mastocitomas de grau baixo. A probabilidade de sobrevivência a 1 ano foi de 95% para os cães com tumores de grau baixo e de 24% para os cães com tumores de grau alto. O tempo médio de sobrevivência para os tumores de grau alto foi de 150 dias.

    Combinar estas duas classificações pode ajudar a determinar melhor o prognóstico dos mastocitomas de grau II, pelo que outro estudo realizado por Reagan JK et al3 recomenda referenciar ambas.

    A evolução do mastocitoma tratado com cirurgia

    O diagnóstico precoce e uma cirurgia agressiva são essenciais para um tratamento bem-sucedido do mastocitoma. Quando o mastocitoma é pequeno, está bem diferenciado e se encontra localizado, a cirurgia costuma ser bem-sucedida, mas é essencial que as margens do tecido fiquem limpas.

    Recomenda-se uma margem lateral de 2 cm e uma margem profunda de 1 plano fascial, segundo um estudo publicado na revista Journal of the American Veterinary Medical Association 4. Se houver suspeita de metástase, deve-se extirpar o gânglio regional. Contudo, com uma cirurgia conservadora, existe uma probabilidade de 50% de recidiva. Obviamente, o risco de recorrência é maior em tumores de grau alto, mesmo com margens limpas.

    Por último, um estudo realizado por Séguin B et al5 analisou a evolução clínica de cães com mastocitoma de grau II tratados exclusivamente com cirurgia. Após análise de 55 cães, verificou-se que 84% não tiveram recidivas do mastocitoma e apenas 5% apresentaram metástase, tendo os investigadores concluído que, após uma excisão cirúrgica completa do mastocitoma de grau II, a maioria dos cães não requer terapêutica sistémica.

    1. Patnaik, A. K. et. Al. (1984) Canine cutaneous mast cell tumor: morphologic grading and survival time in 83 dogs. Vet Pathol; 21(5): 469-474.
    2. Sabattini, S. et. Al. (2015) Histologic grading of canine mast cell tumor: is 2 better than 3? Vet Pathol; 52(1): 70-73.
    3. Reagan, J. K. et. Al. (2018) Evaluation of information presented within mast cell tumour histopathology reports in the United States: 2012-2015. Vet Med Sci; doi: 10.1002/vms3.107.
    4. Fulcher, R. P. et. Al. (2006) Evaluation of a two-centimeter lateral surgical margin for excision of grade I and grade II cutaneous mast cell tumors in dogs. J Am Vet Med Assoc; 228(2): 210-215.
    5. Séguin, B. et. Al. (2001) Clinical outcome of dogs with grade-II mast cell tumors treated with surgery alone: 55 cases (1996-1999). J Am Vet Med Assoc; 218(7): 1120-1123.

     

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