VT_Tematica_Medicina interna_detail.jpg VT_Tematica_Medicina interna_detail.jpg
  • Tempo de leitura: 5 mins

    Diagnóstico e tratamento da prostatite em cães

    A castração tem um efeito direto na prevalência da prostatite em cães.

    Introdução

    As doenças da próstata são relativamente frequentes no cão, sobretudo em animais de idade avançada. Estas doenças incluem: hiperplasia prostática benigna (HPB), prostatite (aguda ou crónica) e abcessos prostáticos, quistos prostáticos e paraprostáticos, atrofia prostática, metaplasia escamosa e neoplasia.1,2 Nalgumas zonas do mundo, a HPB e as prostatites são as patologias prostáticas mais frequentes, com uma incidência de 46–55,3% e 28–38,5%, respetivamente.2 No entanto, noutras (onde a castração eletiva é prática habitual), estas doenças são consideradas raras.3

     

    Descarregue a guia gratuitamente para saber tudo sobre a Imunonutrição dos cães

    Características clínicas da prostatite em cães

    As prostatites em cães são diagnosticadas principalmente em doentes não castrados ou recentemente castrados. A existência de outras patologias prostáticas (HPB, metaplasia escamosa, neoplasia) é considerada um fator predisponente.1,2-4

    Geralmente, as prostatites em cães resultam de uma infeção ascendente causada por bactérias aeróbicas procedentes da uretra, mas também pode provir de uma infeção hematogénica.1-4 Os microrganismos isolados com maior frequência são maioritariamente bactérias Gram-negativas (E. coli, Proteus spp, Klebsiella spp, Pseudomona spp, Pasterella spp, Enterobacter spp, Haemophilus spp), mas também algumas Gram-positivas (Streptococcus spp e Staphylococcus spp).1-3 A Brucella canisMycoplasma canis e Leishmania spp foram detetadas com muito menor frequência e as prostatites fúngicas são consideradas extremamente raras.1-3

    • Os cães com prostatites agudas costumam apresentar-se na consulta com febre, anorexia, letargia, dor no abdómen caudal, corrimento uretral, assim como dificuldade em defecar ou urinar. Durante o exame físico, a palpação retal costuma ser dolorosa, evidenciando uma próstata de tamanho aumentado, dolorosa e com perda da simetria, sobretudo quando há abcessos.
    • Ao contrário da apresentação aguda, muitas prostatites crónicas são subclínicas.
    • Outras manifestações clínicas da prostatite incluem diminuição da libido e da qualidade do sémen, hematospermia e piospermia. 1,2-4

    prostatite em cães

    Diagnóstico

    O diagnóstico das prostatites estabelece-se normalmente com base nos resultados do exame físico, ecografia (avaliação da estrutura e da existência de abcessos) e resultados da citologia e cultura da última fração do ejaculado ou de líquido prostático obtido por sondagem uretral e massagem prostática ou por punção com agulha fina.1,3

    • obtenção do ejaculado prostático em cães com prostatite aguda pode ser difícil devido à dor que o doente sente. Portanto, recomenda-se sedação/analgesia.
    • Por outro lado, a cultura de líquido prostático deveria ser sempre quantitativa já que, sendo um líquido não estéril em condições normais, a interpretação dos resultados não é fácil.3 Embora tradicionalmente a realização de aspirados por agulha tenha sido desaconselhada devido ao risco de disseminação da infeção, não existem evidências de que tal aconteça.1 De qualquer forma, estes procedimentos devem ser realizados por profissionais experientes.
    • Quanto à utilidade da cultura de urina nestes casos, não é consensual. Alguns autores defendem que, na maioria dos cães com prostatite e cistite, o agente causador é o mesmo, podendo-se recorrer apenas à cultura de urina, que é mais fácil de obter do que a prostática.5 Por outro lado, outros opinam que, se não for possível a cultura de material prostático, é preferível administrar antibióticos empiricamente, tendo em conta a discordância entre os resultados da cultura de urina e da prostática.6

     

    Descarregue GRÁTIS → Guia de fisiopatologia gastrointestinal do cão e do gato

    Tratamento da prostatite em cães

    O tratamento destes doentes baseia-se no controlo da hiperplasia prostática, no tratamento com antibióticos que atinjam concentrações terapêuticas na próstata e que sejam coerentes com os resultados da cultura e na administração de analgésicos sempre que necessário.

    Como a HPB favorece o desenvolvimento de prostatite, em cães sem valor reprodutivo recomenda-se a castração; caso contrário, está indicado o tratamento médico da HPB.1,2

    Normalmente, no momento do diagnóstico, inicia-se tratamento antibiótico empírico enquanto se aguardam os resultados da cultura:

    • Recomenda-se fluoroquinolonas aprovadas para uso em cães e desaconselha-se expressamente a ciprofloxacina.
    • A administração de trimetoprim-sulfonamida pode ser outra opção, mas devem ser tidos em conta os seus possíveis efeitos adversos.
    • Embora haja pouca informação sobre a sua eficácia em medicina veterinária, a fosfomicina poderá ser uma opção em casos de germes Gram-negativos resistentes
    • Exceto se indicado pela cultura, não devem ser administrados macrólidos nem clindamicina devido à sua falta de eficácia perante bactérias Gram-negativas. 
    • Do mesmo modo, está desaconselhada a administração de penicilinas, cefalosporinas, aminoglicosídeos e tetraciclinas porque não penetram bem na próstata. 
    • Apesar de o cloranfenicol ter sido considerado nalguns casos para o tratamento da prostatite, a sua concentração neste tecido corresponde a apenas 60% da que atinge no plasma, tendo a sua eficácia sido questionada.1,3
       

    Tradicionalmente, recomendavam-se tratamentos de 4-6 semanas em casos agudos e de 6-8 semanas em crónicos, mas é possível que tratamentos mais curtos sejam igualmente eficazes.1,3

    ABCESSOS PROSTÁTICOS

    Nos abcessos prostáticos, o tratamento médico é o mesmoRelativamente à drenagem do abcesso, o critério não é consensual. Alguns recomendam drená-lo sempre, seja de modo ecoguiado ou cirúrgico, e, neste último caso, acompanhado de omentalização.3 Outros, sobretudo se o abcesso medir menos de 1 cm de diâmetro, ponderam a possibilidade de não drenar ou fazer a drenagem ecoguiada até ver se o tratamento é eficaz e evitar a drenagem cirúrgica.6

    Conclusões

    A possibilidade de uma prostatite crónica deve ser sempre considerada em cães não castrados com sinais de infeção urinária das vias urinárias inferiores. É importante não esquecer que as prostatites crónicas ocorrem muitas vezes de forma subclínica. Portanto, nestes casos, devemos fazer um esforço diagnóstico adicional: exame ecográfico e recolha de amostras para citologia e cultura.

     

    AFF - TOFU - RR Inmunonutrición cachorros - POST

    Bibliografia
    1. Christensen BW. Canine Prostate Disease. Vet Clin North Am Small Anim Pract. 2018; 48: 701-719.
    2. Palmieri C, Fonseca-Alves CE, Laufer-Amorim R. A Review on Canine and Feline Prostate Pathology. Front Vet Sci. 2022; 9:881232.
    3. Weese JS, Blondeau J, Boothe D, et al. International Society for Companion Animal Infectious Diseases (ISCAID) guidelines for the diagnosis and management of bacterial urinary tract infections in dogs and cats. Vet J. 2019; 247:8-25.
    4. Cunto M, Mariani E, Anicito Guido E, et al. Clinical approach to prostatic diseases in the dog. Reprod Domest Anim. 2019; 54: 815-822.
    5. Phongphaew W, Kongtia M, Kim K, et al. Association of bacterial isolates and antimicrobial susceptibility between prostatic fluid and urine samples in canine prostatitis with concurrent cystitis. Theriogenology. 2021; 173:202-210.
    6. Lea C, Walker D, Blazquez CA, et al. Prostatitis and prostatic abscessation in dogs: retrospective study of 82 cases. Aust Vet J. 2022; 100: 223-229.