Paracetamol: cães. Intoxicação, sintomas e consequências
Infelizmente, os animais não metabolizam os fármacos da mesma forma que as pessoas. A toxicidade do paracetamol em cães é comum, sendo administrado pelos donos para tratar a dor sem consultarem previamente o veterinário. Também pode ocorrer um consumo acidental se o animal, ao brincar, alcançar um frasco e ingerir vários comprimidos.
No cão, estabeleceu-se uma dose terapêutica para o paracetamol nos 15 mg/kg. Portanto, uma dose de 150 mg/kg para um cão é fatal. O paracetamol em cães em quantidades elevadas lesa o fígado (citólise hepatocitária: destruição das células do fígado) e os glóbulos vermelhos (hemólise: destruição das células que transportam o oxigénio no organismo).
Sinais de toxicidade por paracetamol em cães
O cão não consegue metabolizar todo o fármaco, pelo que terá um metabolito tóxico no organismo que não consegue excretar e que causará danos em diferentes células, entre elas, as do fígado. Os sintomas podem desenvolver-se nas primeiras 4 horas após a ingestão. Os mais comuns são:
- Vómitos
- Dor abdominal
- Anorexia
- Debilidade
- Dispneia
- Icterícia
- Taquicardia
- Edema subcutâneo (face e extremidades)
- Cianose (resultado de uma molécula chamada “meta-hemoglobina”, que interrompe a capacidade dos glóbulos vermelhos de transportarem oxigénio para os tecidos do corpo).
A toma de grandes doses de paracetamol também pode ter consequências mais graves nos cães: um terço dos animais morrem nas primeiras 24-72 horas.
Diagnóstico e atuação no caso de intoxicação por paracetamol em cães
O médico veterinário começará por obter a história médica do cão. Será importante que o dono indique a quantidade exata de paracetamol que deu ao animal e a hora. O primeiro passo é a descontaminação: se não tiverem passado mais de 4 horas , deve tentar-se eliminar o tóxico por indução de vómito, lavagem gástrica e administração de carvão ativado (atrai as moléculas restantes de paracetamol e evita que sejam absorvidas pelo trato gastrointestinal).
Realiza-se um exame físico completo, um painel de bioquímica, contagem sanguínea, análise à urina e exame fecal. Estes testes de diagnóstico ajudarão a determinar o nível de toxicidade e a opção de tratamento.
A presença de meta-hemoglobina no sangue e sinais como a icterícia e a hematúria exigem hospitalização e cuidados intensivos. A observação de anemia, hematúria e hemoglobinúria pode requerer uma transfusão de sangue.
Como a intoxicação é provocada por um metabolito ativo que reduz a concentração de glutationa no fígado e nos eritrócitos, lesando ambos, e a principal consequência nos cães é sofrerem de necrose hepática, o fígado deve ser monitorizado atentamente. Também é necessário monitorizar a função renal para detetar qualquer alteração que possa refletir uma falência hepática ou renal.
É provável que os cuidados de apoio incluam oxigénio suplementar e a administração de fluidoterapia por via intravenosa para manter uma hidratação adequada e o equilíbrio eletrolítico do animal. A acetilcisteína é considerada um antídoto contra a toxicidade do paracetamol, ao passo que a vitamina C reduz os níveis de meta-hemoglobina no sangue.
Seguimento após o tratamento da intoxicação
Os níveis sanguíneos de meta-hemoglobina devem ser monitorizados; se atingirem mais de 50%, o prognóstico é grave. Também se deve controlar a concentração de glutationa no sangue para avaliar se o tratamento é eficaz, assim como os níveis de enzimas hepáticas no soro para determinar o dano hepático. Se as enzimas continuarem a aumentar entre 12-24 horas após a ingestão, também se levantam preocupações sérias. A morte por dano hepático pode ocorrer em apenas poucos dias.
É vital uma atuação rápida por parte do dono e do médico veterinário assim que haja suspeita de intoxicação por paracetamol em cães.