Diarreia amarela em cães com insuficiência pancreática exócrina
A insuficiência pancreática exócrina é uma doença caracterizada por uma má digestão e má absorção causadas por uma falência na secreção das enzimas pancreáticas e outras substâncias imprescindíveis para facilitar a absorção dos nutrientes. Este problema pode ser provocado por uma pancreatite crónica, uma hipoplasia pancreática, uma neoplasia pancreática ou uma atrofia acinar pancreática, que costuma ser a causa mais comum.
A diarreia amarela em cães é um dos sinais clínicos mais comuns da insuficiência pancreática exócrina. As fezes costumam ser mais volumosas e ter uma consistência pastosa. Também se verifica um apetite insaciável, mas, apesar disso, uma perda de peso.
A insuficiência pancreática exócrina também afeta o pelo, que perde brilho e força. É ainda acompanhada de depleção muscular pronunciada, borborigmos intestinais, flatulência e seborreia seca. Quando a insuficiência pancreática é concomitante com diabetes mellitus, verifica-se poliúria e polidipsia. Os cães também costumam mostrar-se mais nervosos e agressivos, provavelmente devido ao mal-estar abdominal.
Tratamento da insuficiência pancreática exócrina
O objetivo do tratamento é substituir a atividade enzimática pancreática para reverter o desequilíbrio nutricional. Para o conseguir, costuma-se administrar suplementos enzimáticos nos alimentos.
Segundo um estudo apresentado no World Small Animal Veterinary Association World Congress Proceedings1, as maiores concentrações de enzimas no duodeno são obtidas com suplementos sem revestimento entérico. Os suplementos com revestimento entérico têm uma ação mais limitada em cães devido ao atraso no esvaziamento gástrico e ao facto de o pH do duodeno não ser suficientemente alcalino para dissolver o revestimento2.
Uma investigação transversal realizada por Wiberg ME et al.3 analisou a resposta ao tratamento de substituição enzimática a longo prazo em 76 cães Pastor-alemão e Collie com insuficiência pancreática exócrina e 145 cães saudáveis das mesmas raças.
Os cães doentes receberam suplementos de enzimas dietéticas durante, pelo menos, 4 meses. Os investigadores constataram que os sintomas gastrointestinais típicos da insuficiência pancreática exócrina ficaram quase totalmente controlados em metade dos cães doentes. Contudo, uma quinta parte dos cães mostrou uma resposta deficiente ao tratamento.
A diarreia amarela, o volume fecal elevado e a flatulência foram os sintomas gastrointestinais mais persistentes. Os problemas dermatológicos também persistiram num número considerável de casos, sobretudo em cães Pastor-alemão. Os investigadores concluíram que os suplementos enzimáticos não revestidos, a enzima em pó e o pâncreas cru picado eram igualmente eficazes para controlar os sinais clínicos, já que a resposta dos cães aos diferentes tratamentos varia consideravelmente.
Deve-se ter em conta que, em alguns casos, é possível que a funcionalidade digestiva não se normalize nem com os suplementos enzimáticos por os ácidos gástricos os destruírem. Por isso, deve-se ponderar o uso de antagonistas H2 para inibir a produção do ácido gástrico, especialmente nos casos resistentes ao tratamento.
O habitual é manter o tratamento com enzimas pancreáticas para o resto da vida, mas na maioria dos cães a dose inicial pode ser reduzida em 6 a 58%, segundo um estudo publicado na revista Journal of Small Animal Practice4.
Também pode ser útil fazer mudanças na alimentação. Uma dieta de digestão fácil, baixa em fibra, moderada em gorduras e rica em proteínas de qualidade pode aliviar sintomas como a flatulência e os borborigmos, diminuindo o volume fecal e a frequência das dejeções. Descubra a dieta Gastroenteric da Advance Veterinary Diets como complemento ao tratamento da insuficiência pancreática exócrina.
Hall E. J. (2003). Exocrine pancreatic insufficiency. En: World Small Animal Veterinary Association World Congress Proceedings.
Guarín, C. & Sánchez, F. R. (2013) Insuficiencia pancreática exocrina (IPE) en canina. Revista Logos, Ciencia y Tecnología; 5(1): 84-96.
Wiberg, M. E. et. Al. (1998) Response to long-term enzyme replacement treatment in dogs with exocrine pancreatic insufficiency. J Am Vet Med Assoc; 213(1):86-90.
Simpson, J. et. Al. (1994) Long term management of canine exocrine pancreatic insufficiency. J Small Anim Pract; 35: 133-138.