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    Uso de dexcetoprofeno em cães: evidências disponíveis

    Introdução

    O cetoprofeno é um anti-inflamatório não esteroide (AINE), não seletivo, registado em Espanha para o tratamento da inflamação e dor osteoarticular no cão e no gato, assim como para o controlo da dor crónica no cão.1

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    Em geral, considera-se que os AINE que não apresentam uma ação seletiva sobre a isoenzima COX-2 e que inibem tanto a COX-1 como a COX-2 apresentam mais efeitos secundários (sobretudo a nível digestivo e hematológico) do que os seletivos da COX-2.2 No caso concreto do cetoprofeno, a inibição da enzima COX-1 foi associada a um sangramento excessivo e a efeitos adversos a nível gastrointestinal.1

    De um ponto de vista farmacológico, o cetoprofeno é uma mistura racémica de 2 enantiómeros, R e S, dos quais o dexcetoprofeno é o enantiómero S, responsável pelo efeito analgésico do cetoprofeno e que poderá apresentar menos efeitos secundários.1 De facto, em seres humanos, foi descrito que o dexcetoprofeno tem uma ação mais rápida, mais potente e com menos efeitos adversos do que o cetoprofeno.3 Embora o dexcetoprofeno não seja comercializado para ser usado em cães em Espanha, está disponível em várias formulações tanto orais como parentéricas para ser usado em pessoas. Portanto, o uso do dexcetoprofeno em cães poderá representar uma alternativa adicional para o controlo da inflamação e da dor em determinadas situações.

    dexcetoprofeno em cães

    Evidências do uso de dexcetoprofeno em cães

    A eficácia do dexcetoprofeno em cães foi avaliada por diferentes autores.

    • Um estudo comparou o efeito analgésico da administração perioperatória (juntamente com a pré-medicação e nas 48 horas posteriores) de dexcetoprofeno (1 mg/kg/8h, ev), buprenorfina (0,02 mg/kg/8h, ev) e tramadol (2 mg/kg/12h, ev) em cadelas submetidas a ovariohisterectomia. A administração de analgesia de resgate foi necessária em 43%, 21% e 5% das cadelas incluídas no estudo que receberam buprenorfina, tramadol e dexcetoprofeno, respetivamente. O principal efeito secundário associado ao dexcetoprofeno foi a presença de disforia em 20% das doentes. Os autores concluíram que o dexcetoprofeno tinha excelentes efeitos para ser usado como analgésico pós-operatório, mas que a sua falta de efeito sedante poderia resultar em disforia numa percentagem significativa de doentes. Portanto, recomendaram a administração de um sedante durante a recuperação anestésica.1
    • Posteriormente, outro estudo em cadelas submetidas a ovariohisterectomia, nas quais se utilizou um protocolo anestésico diferente mas a mesma dose de dexcetoprofeno, confirmou a eficácia analgésica deste fármaco.4

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    • Mais tarde, Navarrete et al., 2016, compararam os efeitos sobre os requisitos anestésicos de isoflurano da administração pré-anestésica de dexcetoprofeno (1 mg/kg, ev) ou metadona (0,2 mg/kg, ev) em cães submetidos a cirurgia ortopédica. Os resultados do estudo mostraram que se usavam concentrações de isoflurano semelhantes com ambos os fármacos. Além disso, os requisitos de analgesia intraoperatória adicional também foram parecidos em ambos os grupos.5
    • Por último, um estudo recente avaliou o efeito analgésico do dexcetoprofeno em cães (1 mg/kg, ev com a pré-medicação, seguido de 1 mg/kg/8h 24 horas), comparando-o com a administração de metadona (0,2 mg/kg, ev com a pré-medicação, seguido de 0,2 mg/kg/4h 24 horas) em cães submetidos a cirurgia ortopédica. A principal conclusão do estudo foi que o efeito analgésico proporcionado pelo dexcetoprofeno durante as primeiras 24 horas pós-cirúrgicas não era inferior ao obtido com a metadona.6

    Conclusões

    As evidências disponíveis indicam que o dexcetoprofeno em cães, administrado numa dose de 1 mg/kg por via endovenosa no momento da pré-medicação anestésica e posteriormente a cada 8 horas durante 24-48 horas, é um fármaco eficaz no controlo da dor pós-operatória. Nos estudos realizados até à data não foram notificados efeitos adversos associados à administração de dexcetoprofeno, além da disforia em 20% dos doentes num dos estudos.1 Estes achados sugerem que este protocolo de administração é seguro para aplicação clínica; contudo, considerando possíveis repercussões legais, deve ser lembrado que o dexcetoprofeno não está atualmente registado para ser usado no cão.

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    Bibliografia
    1. MORGAZ J, NAVARRETE R, MUÑOZ-RASCÓN P, ET AL. POSTOPERATIVE ANALGESIC EFFECTS OF DEXKETOPROFEN, BUPRENORPHINE AND TRAMADOL IN DOGS UNDERGOING OVARIOHYSTERECTOMY. RES VET SCI. 2013;95(1):278-282.
    2. MCLEAN MK, KHAN SA. TOXICOLOGY OF FREQUENTLY ENCOUNTERED NONSTEROIDAL ANTI-INFLAMMATORY DRUGS IN DOGS AND CATS: AN UPDATE. VET CLIN NORTH AM SMALL ANIM PRACT. 2018;48(6):969-984.
    3. MAULEÓN D, ARTIGAS R, GARCIA ML, ET AL. PRECLINICAL AND CLINICAL DEVELOPMENT OF DEXKETOPROFEN. DRUGS. 1996;52(SUPPL 5):24-45.
    4. SARITAS ZK, SARITAS TB, PAMUK K, ET AL. EVALUATION OF PREEMPTIVE DEXKETOPROFEN TROMETAMOL EFFECT ON BLOOD CHEMISTRY, VITAL SIGNS AND POSTOPERATIVE PAIN IN DOGS UNDERGOING OVARIOHYSTERECTOMY. BRATISL LEK LISTY. 2015;116(3):191-195.
    5. NAVARRETE-CALVO R, GUTIÉRREZ-BAUTISTA AJ, GRANADOS MM, ET AL. COMPARISON OF THE ISOFLURANE CONCENTRATION OF USING DEXKETOPROFEN OR METHADONE AT PREMEDICATION DURING ORTHOPEDIC SURGERY IN DOGS. RES VET SCI. 2016;105:36-40.
    6. GUTIÉRREZ-BAUTISTA ÁJ, MORGAZ J, GRANADOS MDM, ET AL. EVALUATION AND COMPARISON OF POSTOPERATIVE ANALGESIC EFFECTS OF DEXKETOPROFEN AND METHADONE IN DOGS. VET ANAESTH ANALG. 2018;45(6):820-830.