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    Úlcera na cornea causada por cílios ectópicos. Remoção por biópsia.

    Para se poder realizar um diagnóstico correto das alterações oculares nos cães, é necessária uma exploração completa e exaustiva do olho e dos seus anexos, já que, tal como os restantes sistemas orgânicos do animal, requerem seguimento e exames de rotina.

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    Os passos imprescindíveis em qualquer exame oftalmológico são1:

    • Conhecer a história clínica e os antecedentes do animal.
    • Exame geral do doente.
    • Exame à distância (hands-off examination): estudo da visão do cão, avaliação do tamanho, da posição e da simetria dos olhos, das pálpebras e da cara, descarga ocular, conformação e posição das diferentes estruturas e procura de indícios de dor ocular.
    • Exame manual (hands-on examination): exame dos olhos através da palpação e avaliação do reflexo palpebral, do reflexo ou resposta à ameaça e do reflexo vestíbulo-ocular.
    • Teste de Schirmer: teste diagnóstico quantitativo que avalia a componente aquosa da película lacrimal para detetar a presença ou ausência de alterações na produção de lágrima.
    • Exame com luz focal: através de uma luz artificial emitida por um oftalmoscópio, avaliam-se os reflexos pupilar e de encadeamento e o estado das restantes estruturas oculares, tanto direta como indiretamente.
    • Tonometria: determinação da pressão intraocular (PIO).
    • Exames complementares:
      • Teste de fluoresceína: é aplicado um corante na superfície ocular que tem afinidade com a água, de modo a tingir o estroma da córnea não revestido ou epitélio2, permitindo a avaliação da presença de alterações na córnea como úlceras da córnea.
      • Citologia corneal.
      • Cultura e antibiograma.
      • Ecografia ocular.
      • Eletrorretinografia.
      • Ressonância magnética.

    Tipos de úlceras e importância diagnóstica

    A ulceração do olho é um processo extremamente comum nos cães e a sua predisposição depende da raça e da conformação da cara do animal3. É importante identificar cada tipo de úlcera devido às diferenças existentes entre os tratamentos implicados na sua resolução, assim como a causa da mesma, já que se não eliminarmos a causa primária da lesão, não obteremos bons resultados no tratamento e teremos recidivas recorrentes.

    Por um lado, podem ser classificadas de acordo com a profundidade ou as camadas do olho afetadas, podendo, por exemplo, distinguir-se a úlcera da córnea e a úlcera da conjuntiva. Por outro lado, deve-se considerar a presença ou ausência de agentes infeciosos, que implicam uma complicação adicional na cicatrização da lesão, distinguindo-se as úlceras não complicadas, ausentes de agentes infeciosos, das úlceras complicadas, que têm contaminação microbiana.

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    Úlceras causadas por cílios ectópicos: remoção por biópsia

    As úlceras causadas por cílios ectópicos são lesões provocadas pela fricção mecânica de cílios que saem da conjuntiva palpebral para a córnea ocular4. Alguns sinais clínicos nesta alteração associam o comportamento de desconforto e blefarospasmo do animal de estimação a um aumento da descarga lacrimal, vermelhidão e inflamação ocular2, cuja remissão é principalmente cirúrgica, eliminando-se o folículo piloso e a glândula meibomiana através da conjuntiva palpebral.

    Um estudo publicado no mês de janeiro de 2007 na revista Veterinary Ophthalmology avaliou a utilização da biópsia cutânea por punch para a remoção de cílios ectópicos em cães com afeção ocular, tanto no olho esquerdo como no direito.

    Estudaram-se 12 cães com essa alteração e foram detetados um total de 19 cílios ectópicos, aos quais foi aplicado o método de biópsia por punch de 2-3 mm, tendo-se obtido bons resultados com a evitação da recorrência da doença em todos os casos.

    Conclusão

    O método de biópsia por punch é uma técnica alternativa para a eliminação de cílios ectópicos que provocam úlceras da córnea em cães que proporciona bons resultados na cicatrização das mesmas e na remissão dos sinais clínicos provocados por este problema.

    A realização de estudos é importante para se conseguirem tratamentos mais eficazes para melhorar a saúde e a qualidade de vida dos animais.

    Bibliografia
    1 Mould J. Ophthalmic examination. Em: Petersen-Jones S, Crispin S. BSAVA Manual of small animals. ed. BSAVA; 2009. p. 1-12.
    2 Peña MT, Leiva M. Claves clínicas para el diagnótico y tratamiento de úlceras corneales en el perro. Clin.Vet. Peq. Anim. 2012; 32(1):15-26.
    3 Barnett CK. Cornea. Em: Barnett CK, Heinrich C, Samson J. Canine ophthalmology-an atlas and text. ed. W. B. Sawders; 2002. p. 85-98.
    4 Maggs DJ. Párpados. Em: Maggs DJ, Miller PE, Ofri R. Slatter Fundamentos de oftalmología veterinaria. 4ª ed. Elsevier; 2009. p. 111-138.

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