Úlcera em cães
Ulceras nos cães: etiologia
Existem diversas causas que originam úlceras gástricas no cão e no gato. Entre elas podemos encontrar:
- Administração de fármacos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e de corticosteroides, devido à sua ação anti-prostaglandínica que altera os mecanismos citoprotectores da mucosa gástrica. Esta é a mais frequente.
- Doença neurológica medular e administração de corticosteroides devido a alterações na inervação autónoma gástrica, que acabam por originar isquemia e tendência para a formação de úlceras, que é agravada pelo tratamento com corticosteroides. Muito frequente nos cães.
- Doenças renais agudas e crónicas, provocadas pelo efeito tóxico das toxinas urémicas, e diminuição da eliminação da gastrina pelos rins.
- Doenças hepáticascrónicas e hipoadrenocorticismo.
- Doenças que originam hiperacidez gástrica, tais como gastrinoma ou mastocitoses sistémicas, também originam úlceras gástricas. Neste último caso, dá-se um aumento de histamina produzida pelas células tumorais.
- Em situações graves de choque e hipotensão acentuada, também poderão surgir úlceras gástricas.
Pode descarregar o guia de fisiopatologia gastrointestinal do cão e do gato clicando aqui Os AINEs são fármacos que bloqueiam a ação enzimática da ciclo-oxigenase e, consequentemente, diminuem a síntese de prostaglandinas. Desta forma, exercem uma função anti-inflamatória, antipirética e analgésica. A principal toxicidade destes medicamentos manifesta-se a nível gastrointestinal e renal.
A nível gastrointestinal, as prostaglandinas são citoprotetoras, diminuindo a secreção ácida, estimulando a produção de bicarbonato e favorecendo a vasodilatação. Assim, a inibição da secreção de prostaglandinas gástricas irá favorecer o aparecimento de úlceras.
- Relação entre a alimentação, a fibra e o aparecimento de úlceras devido a AINEs: tomando como ponto de partida o facto de nos humanos o uso de anti-inflamatórios não esteroides originar úlceras no intestino delgado, investigaram-se os efeitos que o tipo de alimentação e a quantidade de fibra presente na dieta (DF) possuem na formação de úlceras gastrointestinais induzidas pelos AINEs em cães. Em função dos resultados obtidos, quer o estado de alimentação (jejum ou ausência dele), como a DF insolúvel, como a celulose na dieta, todos eles desempenham um papel importante na formação de lesões intestinais induzidas pelos AINEs.
Manifestações clínicas
Estas costumam ser vómitos e hematémese, e o sangue poderá apresentar-se digerido ou cru, com a presença de coágulos nos casos mais graves. Menos frequentemente, também se observam fezes escuras com sangue, dor abdominal, anorexia parcial e emagrecimento. Nos casos graves, dá-se anemia regenerativa, desidratação, polidipsia e sinais de peritonite se existir perfuração.
Como podemos tratar as úlceras em cães?
- Inicialmente, e no caso de sabermos quais são, podemos eliminar as causas que provocam a ulceração, e posteriormente aplicar um tratamento de suporte no caso de o estado geral do animal ser mau (fluidoterapia, transfusão, dieta).
- Administrar antagonistas dos recetores H2, como a cimetidina 5-10 mg/kg 3 ou 4 vezes por dia, ou a famotidina a 0,5 mg/kg a cada 12 ou 24 h. Também se pode administrar ranitidina durante um mínimo de duas semanas. O sucralfato é um fármaco citoprotetor, que forma uma barreira protetora na úlcera e induz a síntese de prostaglandinas. Deverá ser administrado de forma isolada.
- Mais recentemente, utilizaram-se os análogos das prostaglandinas no controlo das ulceras gastroduodenais, ou bem como protetores da mucosa nos casos em que AINEs foram administrados. O produto a ser usado é o misoprostol.
- O tratamento ciurúrgico é reservado para casos graves e que resistem ao tratamento médico e farmacológico, bem como nos casos de perfuração e peritonite, com gastrectomia parcial.
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