Miosite e polimiosite nos cães. Breve revisão
Introdução
As miosites imunomediadas no cão são um conjunto de patologias que se caracterizam pela apresentação de uma resposta imunitária contra o tecido muscular que condiciona a infiltração de células inflamatórias nos músculos com a correspondente perda de fibras musculares e debilidade. No cão, existem duas patologias imunomediadas causantes da miosite: A poliomiosite (e dermatomiosite quando existem lesões cutâneas características) e a miosite dos músculos mastigadores.
Miosite dos músculos mastigadores
A miosite dos músculos mastigadores, também chamada miosite eosinofílica é uma patologia inflamatória que afeta os músculos mastigadores causando uma atrofia dos mesmos. A sua etiologia autoimune surge porque alguns estudos detetaram anticorpos anti músculo no soro dos cães afetados, os quais identificam especificamente antigénios nas fibras M2 dos músculos mastigadores o que explica a seletividade da afetação muscular. Além do nível histológico, apresentam infiltrado inflamatório e resposta correta aos imunossupressores. Dentro do infiltrado inflamatório são observados eosinófilos, o que explica o segundo nome desta doença.
Existem duas formas de apresentação: Uma forma aguda e uma crónica. Na forma aguda predominam os sintomas inflamatórios, dor e febre, enquanto que na forma crónica predomina a sintomatologia devida à atrofia muscular. Apesar das formas descritas, a maioria dos cães vão à consulta por um problema de trismo ou perda de massa muscular na nível bocal. Dado que a sintomatologia localiza-se exclusivamente a nível da boca, devemos conhecer também o conjunto de patologia a esse nível e quando se encontra indicada a sua derivação a um especialista. O tratamento da mesma são imunossupressores em doses elevadas (corticoides) até o controlo do processo, pudendo retirar-se progressivamente se houver uma evolução correta. O prognóstico é geralmente favorável, embora muitos cães requeriam um tratamento a largo prazo.
Poliomiosite nos cães
A poliomiosite é um tipo de miopatia inflamatória autoimune que se apresenta como uma forma mais generalizada de afetação muscular, ao contrário da miosite dos músculos mastigadores. Principalmente afeta os músculos das extremidades e foi descrita uma predisposição da mesma em adultos de raças grandes 1. Além disso, foi descrita associada a outras doenças como podem ser doenças neoplásicas, outras doenças autoimunes (como o lúpus eritematoso sistémico) ou inclusive como um fenómeno para-imunitário em relação a infeções (secundária a infeções por toxoplasmose, vírus...). Tipicamente a sintomatologia da poliomiosite evidencia-se durante o exercício.
Os cães afetados apresentam debilidade durante a realização de movimentos pudendo apresentar outros sintomas associados se houver afetação orgânica específica como por exemplo a regurgitação por megaesófago. Igual em que a miosite dos músculos mastigadores, a poliomiosite pode apresentar-se numa forma mais aguda, sendo mais frequente a febre e afetação geral do cão ou uma apresentação crónica com atrofia muscular predominante. O tratamento é similar à miosite dos músculos mastigadores sendo que o tratamento de eleição os corticoides em doses imunossupressoras com boa resposta aos mesmos, mas de igual forma à patologia anterior, muitos cães devem manter o tratamento a longo prazo para evitar recaídas. Em casos de resposta negativa, podem iniciar outros imunossupressores (azatioprina...).
Conclusão
As miopatias imunomediadas no cão são doenças que afetam o músculo esquelético produzindo debilidade cujo o mecanismo patogénico é imunológico, sendo que até ao momento ainda não se descobriu ao certo o agente causador. Dado que afeta o músculo, a atrofia do mesmo pode produzir mudanças estéticas e mudanças no volume muscular, pelo que tanto para o seguimento do cão como para detetar a patologia, avaliar o estado corporal do cão é crucial. O tratamento as mesmas é com imunossupressores apresentando uma boa resposta, embora não devamos esquecer a atenção integral do cão, então teremos que prestar atenção à dieta, ao exercício físico... apresentando na maioria dos casos, uma correta recuperação funcional.
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Massey J, Rothwell S, Rusbridge C, Tauro A, Addicott D, Chinoy H et al. Association of an MHC Class II Haplotype with Increased Risk of Polymyositis in Hungarian Vizsla Dogs. PLoS ONE. 2013;8(2):e56490.