Leishmaniose canina: existe uma dieta específica?
A leishmaniose nos cães tem um tratamento farmacológico específico, mas será que podemos tomar medidas extra? Existe alguma dieta específica que melhore a evolução? A leishmaniose nos cães é uma doença produzida por organismos protozoários do género Leishmania, em especial pela Leishmania infantum, que se transmite através das picadas de mosquitos na zona mediterrânica. As suas principais manifestações clínicas são a dermatite, anorexia, perda de peso, palidez das mucosas e linfadenopatias. Analiticamente destacam-se a anemia, plaquetopenia e alterações das proteínas plasmáticas.
A leishmaniose nos cães é uma doença cujo tratamento consegue minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do animal: Dada a possível gravidade que esta doença pode ter, é deveras importante iniciar um tratamento adequado, que consiste habitualmente em antimoniato de meglumina durante 45 dias, em doses de 80 mg/kg/dia, e alopurinol 10 mg/kg/12 horas durante 90 dias.
Mas para além do tratamento farmacológico podemos realizar algum outro tratamento adjuvante?
A dieta como tratamento coadjuvante para a leishmaniose canina
A dieta utilizada foi a Advance Veterinary Diets Urinary Low Purine, cujas principais características, como dieta contra a leishmaniose, são:
- Alto teor de antioxidantes para estimular o sistema imunitário.
- Proteínas de elevado valor biológico para melhorar a recuperação de massa muscular de forma equilibrada, sem causar danos a nível renal.
- Grande palatabilidade e digestibilidade, contribuindo para uma recuperação rápida do peso.
- Limitação do teor de bases púricas para evitar a formação de cálculos de uratos e cistina, os quais tendem a surgir devido ao tratamento com alopurinol.
Outras características benéficas que a Advance Veterinary Diets Urinary Low Purine possui são:
- Contém ácido linoleico, ácidos gordos ómega 3 e biotina, que melhoram a renovação da pele e do pelo.
- Possui uma relação otimizada entre os ácidos gordos ómega 3 e ómega 6 para reduzir a reação inflamatória, principalmente a nível da pele.
- Contém uma dose extra de vitamina C para prevenir o aparecimento de problemas oculares.
- Níveis baixos de fósforo para reduzir a possibilidade de danos renais.
Resultados clínicos do estudo da leishmaniose nos cães
Introduzindo a dieta como adjuvante no tratamento da leishmaniose nos cães durante 90 dias, juntamente com o tratamento farmacológico habitual, encontrámos, ao concluir o estudo, os seguintes resultados a nível clínico:
- Peso e estrutura corporal: Deu-se, em média, um aumento do peso corporal de 8%. Além disso, utilizando o Índice de Massa Corporal (BCS Body Condition Score), observou-se que os animais que no início do estudo apresentavam um peso mais baixo sofreram um aumento de 24%.
- Linfadenopatia: a sua melhoria é indicadora de que o sistema imunitário está a recuperar. No fim do estudo, apenas 2 dos 21 animais continuavam com linfadenopatia, desparecendo também em outros 10 animais que a apresentavam previamente.
- Alterações cutâneas: no início do estudo, 14 cães possuíam alterações dermatológicas graves. No fim dos 90 dias nenhum dos animais apresentava lesões graves nem intermédias.
Resultados analíticos do estudo da leishmaniose nos cães
A nível analítico, os resultados foram os seguintes:
- Eritrócitos: Analisando a contagem de eritrócitos, hematócritos e de hemoglobinas, no início do estudo 13 animais apresentavam menos alterações num desses parâmetros, enquanto que 9 animais apresentavam alterações nos três. No fim do estudo, apenas um animal apresentava alterações nos três parâmetros e outros dois animais apresentavam alterações em algum dos três.
- Trombócitos: No início, 7 animais apresentavam trombocitopenia e apenas um continuava afetado por este problema no fim do estudo.
- Creatinina: foi monitorizada em todos os animais para garantir que não se produziam danos renais. Não foram encontradas alterações em nenhum dos animais.
Ações a nível imunitário
- Aumento dos níveis de vitamina E (de 7,1 até 38,6 μg/ml): de entre as ações da vitamina E como estimulante do sistema imunitário destacam-se o aumento da atividade dos neutrófilos e dos macrófagos, o aumento da produção de linfócitos T helper e interleukinas que contribuem para a resposta imunitária celular de tipo TH1.
- Reequilibra os grupos de linfócitos: melhora os valores de linfócitos helper CD4+, inibindo os linfócitos CD8+
Para concluir: Com todos estes resultados clínicos e analíticos podemos concluir que os cães com leishmaniose não só melhoraram a nível clínico e analítico, mas também se verificou uma melhoria na resposta imunitária. Em suma, a leishmaniose é uma doença crónica, cujo tratamento farmacológico intenso e dieta adequada proporcionadora de uma maior imunidade permitem melhorar os sintomas e a qualidade de vida do cão, de modo a proporcionar-lhe bem-estar.