Interferon ómega felino: leucemia e imunodeficiência felinas
De acordo com um estudo realizado na Universidade Complutense de Madrid (1), a leucemia felina costuma ter uma maior incidência nos gatos jovens, menores de 3 anos, enquanto que a imunodeficiência felina afeta sobretudo os animais adultos, entre os 3 e os 8 anos. Ainda que ambas possam surgir em qualquer etapa da vida do gato.
Alguns tratamentos, como o interferon ómega felino, apresentam uma elevada taxa de sobrevivência. Graças à sua ação antiviral e imunomoduladora, estimula a produção de glóbulos brancos e melhora o funcionamento do sistema imunitário, pelo que também se utiliza para tratar infeções como o parvovírus felino e a peritonite infecciosa felina.
Mecanismo de ação do interferon ómega felino
Os interferons são um tipo de proteínas indicadoras que produzem as próprias células hospedeiras como reação na presença de agentes patogénicos como os vírus e as células tumorais. A célula infetada origina-os por forma a ativar as defesas antivirais no resto das células e evitar que o agente patogénico se propague. O interferon ómega felino imita esse mecanismo natural, já que se trata de um tipo de interferon sintetizado a partir do ADN felino usando as técnicas de ADN recombinadas. A sua função consiste em unir-se rapidamente aos recetores específicos das células por forma a combater a infeção.
Este fármaco não atua diretamente sobre o vírus patogénico, mas sim sobre as células infetadas para:
- Inibir o mecanismo de síntese interna do vírus nas células infetadas.
- Deter o mecanismo de multiplicação do vírus destruindo o ARNm e desativando as proteínas de transcrição.
- Evitar a multiplicação do genoma viral e a saída do vírus da célula.
- Inibir a angiogénese, o mecanismo de formação de novos vasos sanguíneos que facilita a reprodução das células infetadas.
- Estimular a imunidade celular.
Assim, este medicamento desacelera o processo de reprodução do vírus e fortalece as defesas do organismo do animal para o ajudar a combater a infeção.
O interferon ómega felino é um fármaco seguro, mas dado que é muito forte poderá provocar alguns efeitos secundários nos gatos entre 3 a 6 horas após a sua administração, sendo eles:
- Vómitos.
- Hipertermia.
- Fezes brandas e diarreia.
- Fadiga transitória.
Também pode causar uma leve redução dos glóbulos brancos, das plaquetas e dos glóbulos vermelhos, bem como um aumento da concentração de alanina e de aminotransferase, uma enzima que é utilizada como indicador do funcionamento hepático.
A eficácia do interferon ómega felino no tratamento do VLFe e do VIF
Quanto mais recente for a infeção, mais eficaz será o interferon ómega felino já que inibe a síntese interna do vírus evitando que o mesmo se hospede na medula óssea e se multiplique. Quando utilizado nas primeiras semanas de infeção costuma apresentar uma alta taxa de eficácia: alivia a sintomatologia, detém o avanço do vírus, fortalece o sistema imunitário e reduz a mortalidade.
A sua eficácia aumenta quando aplicado de forma intravenosa já que por via oral osácidos do estômago e as enzimas do duodeno podem impossibilitar a sua ação. De facto, quando aplicado por via oral o seu mecanismo varia, já que também atua a nível local, estimulando o tecido linfoide, o qual desencadeia uma resposta imunitária que termina provocando um efeito a nível sistémico.
Um estudo avaliou a eficácia do interferon ómega recombinado felino num grupo de gatos sintomáticos e positivos para VLFe e duplos positivos para VLFe e para FIV. Foi-lhes administrado diariamente um tratamento por via subcutânea com interferon ómega recombinado a um grupo de 28 gatos doentes e compararam-se os resultados com outro grupo de 20 gatos administrados com apenas um placebo. Observou-se que o índice de mortalidade diminuiu de 75 para 36% no grupo submetido ao tratamento com interferon ómega recombinado felino.
Outra investigação realizada na Universidade Complutense comprovou que o tratamento com interferon em gatos com leucemia e imunodeficiência felina produz uma melhoria significativa dos sinais clínicos bem como dos parâmetros hematológicos, ao mesmo tempo que reduz o risco de contraírem infeções oportunistas graves e que cheguem a morrer, em consequência destas.
Demonstrou-se que o tratamento com interferon ómega felino pode reduzir a anemia e elevar a contagem de linfócitos, neutrófilos e a concentração de gammaglobulinas nos gatos, ao mesmo tempo que melhora a resposta imunológica contra os vírus. Nos gatos infetados pelo VLFe a recuperação clínica também foi associada a uma redução da carga pró-viral e à anti-genemia.
(1) ARJONA A, ET AL. ESTUDO SEROEPIDEMIOLÓGICO DA LEUCEMIA E IMUNODEFICIÊNCIA FELINAS EM MADRID. MED VET 2000; VOL. 17 (3): 75-83.
(2) DOMÉNECH A, MIRÓ G, COLLADO VM, BALLESTEROS N, SANJOSÉ L, ESCOLAR E, MARTÍN S, GÓMEZ-LUCÍA E. USE OF RECOMBINANT INTERFERON OMEGA IN FELINE RETROVIROSIS: FROM THEORY TO PRACTICE. VET IMMUNOL IMMUNOPATHOL. 2011 OCT 15; 143(3-4): 301-6