Dor na cabeça do fémur e crepitação: sintomas da necrose asséptica
A necrose asséptica da cabeça do fémur, também conhecida como doença de Legg-Calvé-Perthes, é uma patologia não inflamatória da cabeça e do pescoço do fémur que afeta o desenvolvimento deste osso na articulação da anca. Deve-se a um problema de fornecimento sanguíneo na zona, o que limita a chegada de nutrientes ao tecido ósseo, originando a necrose das células e um rápido desgaste nessa parte do fémur.
Este tipo de necrose manifesta-se durante o primeiro ano de vida do animal, geralmente entre os quatro e os onze meses de idade, período no qual a vascularização da epífise femural ainda se encontra em desenvolvimento e é bastante vulnerável. A doença é mais comum em raças de pequeno porte, como o Yorkshire, Caniche, Chihuahua, Pinscher, Fox Terrier e no Silky Terrier Australiano.
Quais as causas da necrose asséptica na cabeça do fémur?
Ainda não se conhecem plenamente as causas da necrose asséptica. No entanto, os peritos concordam que a doença se manifesta devido à falta de irrigação sanguínea na articulação, ao nível da cabeça e do pescoço do fémur, que por sua vez pode ser provocado por diversos fatores:
- Fatores traumáticos. Sofrer vários traumatismos, como os provocados pelo exercício físico intenso e repetido, na zona da articulação da anca, poderá originar fissuras ou afetar uma irrigação adequada de fluxo sanguíneo na zona.
- Fatores endócrinos. Um nível elevado de estrogénios ou de testosterona poderá originar um encerramento precoce da placa epifisária proximal do fémur, bem como afetar a circulação do sangue na zona.
- Fatores metabólicos. Uma alimentação rica em fibras numa idade precoce pode originar um desequilíbrio metabólico e causar uma deficiência na absorção de cálcio, o que pode debilitar o tecido ósseo da cabeça e do pescoço do fémur, bem como a adequada irrigação sanguínea da articulação.
Sintomas da necrose asséptica na cabeça do fémur em cães
O primeiro sintoma da necrose asséptica da cabeça do fémur costuma ser a aparição repentina de coxear (claudicação), geralmente apenas num membro, já que apenas em 10-15% dos casos a necrose asséptica da cabeça do fémur surge de forma bilateral. Esta claudicação progride de forma gradual, surgindo de maneira intermitente e tornando-se cada vez mais frequente, sendo que o normal é que se intensifique e resulte numa completa incapacidade para suportar o peso do corpo do animal.
Outro dos seus sintomas mais comuns é o surgimento, igualmente repentino, de dor na cabeça do fémur, bem como uma crepitação na articulação, que se traduz por um som semelhante a trituração, que se pode escutar cada vez que a articulação é forçada. Nalguns casos, também se pode observar um aparente encurtamento da extremidade afetada que pode chegar a alcançar até 2 centímetros de diferença.
Alguns animais manifestam, adicionalmente, uma irritabilidade evidente e uma perda ou diminuição do apetite. Nalguns casos, também se pode dar uma auto-mutilação da pele que reveste a anca afetada, devido a uma tentativa do cão em aliviar a sua dor.
Soluções para a necrose asséptica da cabeça do fémur
Quando se suspeita que o cão sofre de necrose asséptica da cabeça do fémur, realiza-se uma revisão clínica geral para avaliar a gravidade dos sintomas. Posteriormente, efetua-se um estudo radiológico para confirmar o diagnóstico recorrendo a uma radiografia em posição lateral e ventrodorsal, com os membros estendidos por forma a se observar o estado da cabeça do fémur.
No início da doença, costuma ser observável uma área translúcida na radiografia da zona da articulação, devido ao tecido afetado. À medida que a doença progride, também se verifica um achatamento ou irregularidade na cabeça e no pescoço do fémur. Nalguns casos, a cabeça pode estar fragmentada e o pescoço femural encurtado.
Se a doença se encontrar no estádio inicial, podemos recorrer à imobilização do membro afetado com uma ligadura de tipo Ehmer para impedir que o cão apoie o membro e assim proteger a cartilagem articular. Neste caso, recomenda-se manter o animal em repouso, evitando que salte ou que faça exercício físicos intensos.
Ao retirar a ligadura, após 4 ou 6 semanas, recomenda-se completar o tratamento com fisioterapia, seja ela sob a forma de natação ou de massagens leves no membro afetado por forma a reduzir o risco de atrofia muscular, e também para favorecer a mobilidade do membro sem provocar uma sobrecarga. Nestes casos o prognóstico costuma ser favorável e, após o tecido da cabeça e do pescoço do fémur terem sido regenerados, o cão poderá ter uma vida normal.
Quando a doença se encontra numa etapa avançada, é recomendável recorrer à cirurgia. O tratamento cirúrgico consiste em realizar uma ostectomia na cabeça e no pescoço do fémur e na articulação, por forma a eliminar o tecido necrosado e, posteriormente, preencher o espaço articular com tecido fibroso. Após a cirurgia o animal deverá manter repouso durante uma semana. Após isso, poderá aumentar de forma gradual a sua atividade física para manter a anca em movimento.
O prognóstico da cirurgia irá depender da gravidade da doença e do dano que a cabeça e o pescoço do fémur apresentarem. Um estudo (1) realizado na Universidade de Utrecht revelou que se os danos forem muito graves, a evolução do cão costuma ser favorável, ainda que por vezes possa restar uma leve claudicação intermitente que desaparece com o tempo. Após a recuperação e reabilitação, os cães podem levar uma vida completamente normal.
PIEK, C. ET. AL. (1996) LONG-TERM FOLLOW-UP OF AVASCULAR NECROSIS OF THE FEMORAL HEAD IN THE DOG. THE JOURNAL OF SMALL ANIMAL PRACTICE; 37 (1): 12-8.