VT_Tematica_Medicina interna_detail.jpg VT_Tematica_Medicina interna_detail.jpg
  • Tempo de leitura: 5 mins

    Cancro em cães idosos: particularidades da oncologia geriátrica

    Introdução

    Para falar de cancro em cães idosos, primeiro devemos estabelecer quando se considera um cão como “idoso”. Não existe um critério unânime:

    • Alguns autores entendem que um cão pode ser considerado sénior quando entra nos últimos 25% da sua esperança de vida.1
    • Outros preferem antecipar esta etapa para o momento em que o cão alcança os 60% da sua esperança de vida e utilizar o termo geriátrico para quando o cão chega aos últimos 25%.2
    • Contudo, de um ponto de vista estritamente oncológico, consideram-se geriátricos os cães gigantes com mais de 5 anos e os com mais de 8 anos com peso inferior a 40 kg.2

    Solicite nosso póster de avaliação do estado corporal de cães aqui

    Não estão disponíveis dados atualizados sobre a distribuição de doentes por faixas etárias em Espanha, mas estima-se que, nos EUA, 39% da população canina seja sénior e que 47% dos seniores sejam geriátricos.2

    Generalidades da oncologia geriátrica

    As neoplasias malignas são frequentes em cães geriátricos,3 provavelmente porque os cães idosos são mais suscetíveis ao desenvolvimento de tumores.2 O cancro pode ser a causa de falecimento/eutanásia em 50% dos doentes geriátricos.2

    Neste tipo de doentes, existe o risco de que muitos sinais clínicos causados pela doença possam ser atribuídos ao processo fisiológico de envelhecimento, pelo que é importante educar o cliente para que reconheça os sinais precoces da carcinogénese e procure ajuda veterinária. Isto, assim como um clínico que pratique uma medicina atualizada e que evite o típico “vamos esperar para ver se cresce”, pode marcar a diferença entre a vida e a morte do doente.

    Diagnóstico do cancro em cães idosos

    Algumas das neoplasias cujos sinais iniciais podem não ser tidos em conta incluem:

    1) carcinoma digital de células escamosas, confundido com uma doença das unhas; 

    2) osteossarcoma, como causa de claudicação; 

    3) fibrossarcoma, mastocitoma ou hemangiopericitoma considerados como “caroços de gordura sem importância”; 

    4) adenocarcinomas da mama diagnosticados como mastite

    5) linfoma que causa sinais alimentares e é diagnosticado como gastrite; e 

    6) neoplasias uretrais ou vesicais que causam hematúria e/ou disúria e são tratadas como cistite.3

    Para um diagnóstico precoce, é importante considerar a predisposição racial para sofrer um tipo específico de tumor (por exemplo, os Scottish Terrier têm uma predisposição para sofrer tumores da bexiga 20 vezes superior às outras raças), a ação de fatores ambientais (por exemplo, a radiação solar), o tamanho do doente (osteossarcoma e cães de raça grande) ou estado do aparelho reprodutor (neoplasias da mama em cadelas inteiras).2

    Solicite nosso póster de avaliação do estado corporal de cães aqui

    Nestes doentes, é importante tentar obter o diagnóstico mais preciso possível utilizando as técnicas menos agressivas com o animal. Embora em alguns casos isto possa fazer-se com uma simples citologia, em muitos casos o diagnóstico e o estadiamento da doença podem requerer diferentes combinações de análises ao sangue e urina, radiografia, ecografia, biópsia e posterior determinação do imunofenótipo, tomografia computorizada ou ressonância magnética. Tudo isto deve ser explicado cuidadosamente ao tutor.4 

    cancro em cães

    Tratamento

    O tratamento do cancro em cães idosos é complexo porque, além da gravidade da doença em si, o próprio animal já se encontra na última etapa da sua vida e, em muitos casos, já apresenta outras patologias crónicas. Portanto, para além dos conhecimentos sobre como tratar um doente pluripatológico, é necessário saber comunicar ao tutor a situação real do animal, apresentar as diversas opções de tratamento e fazê-lo do modo mais empático possível.   

    O tratamento do cancro em cães idosos baseia-se nos 3 pilares clássicos: 

    • cirurgia
    • quimioterapia (“tradicional” ou metronómica) e 
    • radioterapia, que, dependendo do caso, poderá ser aplicada como modalidade única de tratamento ou em combinação. 
       

    Por outro lado, em alguns casos recorre-se a outras técnicas, como a eletroquimioterapia, a imunoterapia ou a quimioterapia intralesional.

    QUIMIOTERAPIA

    Deve ter-se em conta que é possível que estes doentes requeiram reduções consideráveis nas doses de determinados fármacos, dependendo do grau de compromisso orgânico apresentado.5 No entanto, as evidências indicam que, exceto no caso do linfoma multicêntrico, a idade em si não representa uma limitação para a aplicação de protocolos quimioterápicos nem um requisito para ajustar as doses, mesmo em doentes muito idosos (≥ 14 anos).6

    RADIOTERAPIA

    Embora seja uma modalidade terapêutica pouco difundida em Espanha devido aos requisitos legais, técnicos e económicos que uma instalação especializada implica, pode ser muito eficaz tanto como tratamento primário como combinado com outras técnicas para melhorar o prognóstico do doente.5

    NUTRIÇÃO 

    É um pilar importante no tratamento do cancro em cães idosos. Um cão com uma dieta inadequada em quantidade ou qualidade tolerará pior o tratamento, o que pode levar o tutor a repensar se vale a pena continuar a tratar o animal. É importante fornecer uma dieta com elevada palatabilidade, que o animal ingira na quantidade adequada e que cubra os seus requisitos energéticos, tendo em conta ainda a possível existência de outras comorbilidades. Nestes casos, pode ser interessante contar com os serviços de especialistas em nutrição para elaborarem a dieta mais adequada.

    CONTROLO DA DOR 

    É uma parte muito importante do tratamento de alguns tipos de cancro em cães idosos. Muitos tutores podem aceitar o diagnóstico da doença e assumir o tratamento da mesma, mas muito poucos tolerarão que o seu animal de estimação sofra dor por um tempo prolongado. Na maioria dos casos, recorre-se a combinações de um anti-inflamatório não esteroide com opiáceos, embora em animais com uma carga de ansiedade considerável possam ser ainda acrescentados antidepressivos tricíclicos.4

    Conclusões

    O cancro em cães idosos é uma das principais causas de morbilidade/mortalidade nesta espécie. No entanto, e apesar da sua potencial gravidade, diagnosticar um tumor num animal geriátrico não deve ser sinónimo de eutanásia iminente. O tratamento destes doentes pode ser mais complexo do que o de cães oncológicos jovens, mas com um protocolo adequado podem ser tratados de modo a conseguir-se melhorar a sua qualidade de vida e prolongar a duração da mesma.

    New call-to-action

    Bibliografia
    1. CREEVY KE, GRADY J, LITTLE SE, ET AL. 2019 AAHA CANINE LIFE STAGE GUIDELINES. J AM ANIM HOSP ASSOC. 2019;55(6):267-290.
    2. VILLALOBOS A, KAPLAN L. MOLECULAR BIOLOGY OF CANCER AND AGING. EM VILLALOBOS A, KAPLAN L. (EDS). CANINE AND FELINE GERIATRIC ONCOLOGY. 2ND ED. JOHN WILEY & SONS. 2018; 3-28. 
    3. EPSTEIN M, KUEHN NF, LANDSBERG G, ET AL. AAHA SENIOR CARE GUIDELINES FOR DOGS AND CATS. J AM ANIM HOSP ASSOC. 2005;41(2):81-91.
    4. VILLALOBOS A, KAPLAN L. GENERATING THE DIAGNOSIS AND PROGNOSIS OF CANCER IN GERIATRIC PETS. EM VILLALOBOS A, KAPLAN L. (EDS). CANINE AND FELINE GERIATRIC ONCOLOGY. 2ND ED. JOHN WILEY & SONS. 2018; 117-152.
    5. VILLALOBOS A, KAPLAN L. TREATING CANCER IN GERIATRIC PETS. EM VILLALOBOS A, KAPLAN L. (EDS). CANINE AND FELINE GERIATRIC ONCOLOGY. 2ND ED. JOHN WILEY & SONS. 2018; 117-152.
    6. MOORE AS, FRIMBERGER AE. USEFULNESS OF CHEMOTHERAPY FOR THE TREATMENT OF VERY ELDERLY DOGS WITH MULTICENTRIC LYMPHOMA. J AM VET MED ASSOC. 2018;252(7):852-859.