Anti-inflamatório para cães. Efeitos a curto prazo
A categoria dos anti-inflamatórios inclui uma ampla variedade de fármacos, cujo objetivo principal é diminuir a inflamação, a dor e a febre. Os anti-inflamatórios não esteroides (AINE) costumam ter uma ação mais forte, mas também têm efeitos a curto prazo mais negativos para os animais, principalmente no caso dos cães.
Efeitos adversos dos anti-inflamatórios para cães
O uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINE) foi associado a úlceras e até perfurações gastrointestinais, já que muitos destes medicamentos são ácidos fracos, podendo irritar diretamente as mucosas gástricas, sobretudo quando são administrados por via oral. Os efeitos adversos gastrointestinais podem ser de gravidade variável, desde vómitos, diarreia e perda de apetite até uma gastrite ligeira ou uma ulceração gastrointestinal grave.
De facto, uma das razões mais frequentes pelas quais se suspende este tratamento é o aparecimento de vómitos e/ou diarreia no cão. A decisão mais conservadora é interromper a administração dos anti-inflamatórios até os sinais clínicos se resolverem, para depois introduzir um medicamento mais suave acompanhado de um protetor gástrico.
Os anti-inflamatórios também são conhecidos pela sua toxicidade renal e hepática, principalmente nas primeiras três semanas de tratamento. Foram associados ao aparecimento de fígado gordo em cães jovens quando administrados em doses elevadas. Em situações hipovolémicas, pode ocorrer uma lesão renal secundária à administração de AINE como resultado da inibição da síntese de prostaglandinas.
Portanto, recomenda-se sempre realizar uma análise ao sangue antes de se prescrever a medicação para estabelecer um ponto de comparação inicial, e depois repeti-la periodicamente. Obviamente, estes medicamentos devem ser usados com extrema cautela nos animais que já apresentem patologias do fígado ou dos rins.
Contudo, é importante esclarecer que os AINE mais recentes aprovados para uso veterinário têm uma frequência menor de efeitos adversos gastrointestinais nos cães comparativamente aos anti-inflamatórios clássicos, tal como indicado num estudo realizado na Universidade Estatal de São Paulo1. Até ao momento, não existem estudos que garantam uma menor toxicidade renal ou hepática com estes novos medicamentos.
Efeitos da prednisona nas doenças cardíacas
Um estudo2 publicado na revista American Journal of Veterinary Research analisou o efeito dos anti-inflamatórios para cães, especificamente os glucocorticoides de ação intermédia (prednisona), administrados por via oral. O seu objetivo era comprovar se as doses anti-inflamatórias podem predispor os cães à progressão da doença cardíaca ou insuficiência cardíaca congestiva.
Os investigadores avaliaram 11 cães com dermatite alérgica, que compararam a 11 cães de controlo saudáveis que não receberam tratamento. Analisaram variáveis clinicopatológicas, ecocardiográficas e hemodinâmicas. Os cães com dermatite alérgica receberam prednisona (1 mg/kg, PO) uma vez por dia, durante 14 dias consecutivos, seguindo-se um período de redução progressiva e um período de “lavagem” (washout). As medições foram repetidas nos dias 7, 14 e 35 do estudo.
Os resultados mostraram que a administração de prednisona não causou alterações significativas na concentração sérica de sódio ou potássio, nem na concentração de glicose no sangue. Também não alterou as variáveis ecocardiográficas.
No entanto, ao sétimo dia, a alteração na pressão arterial sistólica em relação à avaliação basal foi significativamente superior nos cães tratados com prednisona do que nos cães de controlo. Os investigadores também verificaram variações nos valores hematológicos e bioquímicos séricos esperados (neutrofilia, eosinopenia, isostenúria e atividade elevada de fosfatase alcalina sérica e alanina aminotransferase) devido à administração de prednisona.
Este estudo sugere que as doses de glucocorticoides administrados por via oral têm o potencial de afetar negativamente a função cardíaca em cães, causando um aumento da pressão sanguínea, o que implica um aumento da pós-carga cardíaca.
Outra análise realizada na Universidade Estatal do Kansas3 sobre a ação farmacológica dos anti-inflamatórios não esteroides em cães sugeriu que estes podem afetar a pressão arterial devido aos seus efeitos sobre a síntese de prostaglandinas.
Durante estes tratamentos, a dieta de proteção renal pode ajudar o cão a compensar determinados problemas próprios das patologias cardíacas nas suas primeiras fases devido ao seu baixo teor em sódio e uma formulação que não só detém a evolução da insuficiência renal, como também protege o sistema cardiovascular.