Hipertiroidismo nos gatos: eficácia do tratamento com metimazol
Glândula tiróide e Hipertiroidismo felino
A glândula tiróide é uma glândula lobular com funções endócrinas localizada no pescoço dos vertebrados de forma ventral à traqueia. Esta glândula segrega hormonas tiroides cujas principais funções são a de regular os níveis metabólicos e a síntese de proteínas. Estas hormonas também representam um papel fundamental no desenvolvimento e crescimento do indivíduo e na homeostase do cálcio. A produção hormonal desta glândula é regulada pela hormona estimulante da tiróide (TSH), produzida na hipófese, e que por sua vez é regulada pela hormona libertadora de tirotropina (TRH), originada no hipotálamo. O hipertireoidismo constitui a desordem endócrina mais habitual nos gatos. O problema é produzido por uma secreção descontrolada de T4 pela glândula tiróide, que na maioria dos casos se deve a uma hiperplasia nodular ou a um adenoma benigno. A elevação desta hormona origina, por sua vez, a supressão da secreção de TSH e de TRH, provocando a atrofia do tecido saudável, mas não a do tecido alterado, o que agrava e prolonga o problema.
A etiologia da doença ainda não se encontra completamente definida, mas sabe-se que provém de vários fatores, sendo que a concentração de iodo na dieta constitui um aspecto fundamental. Dietas ricas em iodo ou variações bruscas na concentração deste mineral na dieta do gato aparentam contribuir para o desenvolvimento de hipertireoidismo. A idade (gatos com mais de seis anos) e a presença de substâncias goitrogénicas (substâncias que podem diminuir a síntese de hormonas da tiróide, fazendo com que a hipófese gere mais TSH) na dieta (sob a forma de aditivos alimentares em dietas à base de peixe ou fígado) ou nos componentes da embalagem, constituem outros fatores que parecem relacionar-se com o problema.
Os sintomas mais comuns incluem poliúria/polidipsia, nervosismo ou hiperatividade, perda de peso apesar de o gato apresentar um apetite normal ou até aumentado, presença de um nódulo na região cervical e vómitos ou diarreias. Alterações hematológicas como a anemia, sintomas cardíacos como a hipertrofia cardíaca; sintomas hepáticos, renais e neurológicos também podem manifestar-se. Após ser diagnosticado o hipertireoidismo apresenta três opções de tratamento.
- Tratamento cirúrgico: Todo o tecido da tiróide é extirpado.
- Terapia radioativa: Destrói o tecido hiperfuncional.
- Tratamento com fármacos (metimazol ou carbimazol).
Metimazol transdérmico
O metimazol atua através do bloqueio da síntese de hormonas da tiróide T3 e T4, podendo ser administrado por via oral ou transdérmica. O tempo que a fórmula oral demora a diminuir os valores de T4 (entre uma e três semanas) é menor do que o da fórmula transdérmica (cerca de quatro semanas), devido a uma menor biodisponibilidade da via transdérmica. No entanto, é uma opção bastante interessante para gatos difíceis de manusear ou que reagem negativamente à administração por via oral, ou para aqueles animais nos quais o metimazol provoca efeitos secundários gastrointestinais. É aplicado no pavilhão auricular, na face interna, usando luvas e limpando previamente a zona em questão.
Recentemente trataram-se treze gatos diagnosticados com hipertireoidismo recorrendo a esta fórmula transdérmica em doses de 50 mg/ml (0,1 ml) a cada 12 horas, durante 28 dias. Foram realizados exames analíticos completos (hemograma e bioquímica) e níveis de tiroxina sérica (T4) no dia 0, no dia 14 e no dia 28, bem como um exame de exploração física completo. No final do estudo, os dez gatos que o completaram manifestavam uma melhoria clínica, sendo que os níveis de T4 haviam diminuído significativamente, o que sugere que o tratamento com metimazol transdérmico é tão eficaz e seguro como as fórmulas orais.