Diarreia nos cães: tratamento com tilosina e dieta
Nalguns casos, o problema deve-se a um supercrescimento bacteriano na zona anterior do intestino. Ainda que estas bactérias não sejam patogénicas, podem desencadear ou agravar uma inflamação intestinal.
Por vezes, o tratamento da diarreia nos cães exige o uso de antibióticos de amplo espectro para reduzir o número de bactérias. Quando se procuram obter resultados rápidos, é habitual combinar o metronidazol com a enrofloxacina. Porém, também se observou que a tilosina, em conjunto com uma dieta de qualidade, produz bons resultados.
Um estudo publicado no Journal of Veterinary Internal Medicine (1) revelou que a tilosina constitui um tratamento para a diarreia recorrente em cães, quando não é possível determinar a causa subjacente, sendo que nestes casos a mesma é reduzida em pouco dias. Esta condição conhece-se como diarreia com resposta à tilosina (DRT).
Mecanismo de ação da tilosina
A tilosina é um antibiótico que pertence ao grupo dos macrólidos, os quais conseguem alcançar elevadas concentrações na mucosa gástrica, ainda que seja metabolizada no fígado, e excretada na bílis e na urina. Este fármaco também se utiliza para tratar a pneumonia, a septicemia hemorrágica, a mastite e a leptospirose em diferentes animais.
Possui uma ação bacteriostática sobre um amplo conjunto de agentes patogénicos, entre os quais se contam os estreptococos, estafilococos, diplococos, bacilos, clostrídios, micoplasmas, leptospiras e clamídias.
A tilosina atua sobre os microrganismos em processo de multiplicação, penetrando com relativa facilidade nas bactérias Gram positivas. Em termos práticos, une-se à subunidade ribossómica 50S e à transladação do aminoácido ARNt nos microrganismos sensíveis. Dado que apresenta um efeito bacteriostático, na realidade não mata as bactérias no intestino, mas sim evita que cresçam e se multipliquem, ajudando desta forma o sistema imunitário a combater a infeção.
Um estudo publicado recentemente no Journal Veterinary (2) descobriu outro mecanismo de ação da tilosina no tratamento das diarreias nos cães. Os investigadores administraram tilosina a 25 mg/kg por via oral a 14 cães, uma vez por dia durante 7 dias, e posteriormente analisaram os níveis de bactérias potencialmente probióticas como Enterococcus spp. e bactérias do ácido láctico (LAB).
Verificaram que enquanto os cães estavam sob o tratamento, a população de ambas bactérias aumentou. Este facto explicaria a remissão dos sintomas, já que estas bactérias exercem uma função moduladora sobre outras populações da microflora intestinal, e reduzem a quantidade de radicais livres no intestino, fomentando além disso a geração de anticorpos contra o vírus. De facto, foi demonstrado que o uso de probióticos reduz o tempo de convalescença das diarreias agudas nos cães.
Diarreia nos cães: Tratamento com tilosina
Nos cães, a tilosina costuma ser administrada por via oral, sendo que a forma injetável é muito menos utilizada. Geralmente é muito bem tolerada e não origina efeitos secundários graves, ainda que alguns cães possam apresentar:
- Perda de apetite
- Intensificação da diarreia antes do início da remissão
- Falsos resultados positivos no exame de sangue de ALT e de AST para diagnosticar transtornos do fígado
Um estudo publicado no Journal of Veterinary Internal Medicine (3) analisou os efeitos da tilosina e a dieta em 7 cães que sofriam de diarreia crónica há pelo menos 30 dias. O tratamento consistiu numa dose de 20 mg/kg uma vez por dia, durante 10 dias. Os investigadores verificaram que, quando comparada com as combinações de metronidazol e trimetoprim-sulfadiazina, ou de doxiciclina e prednisona, a tilosina conseguia endurecer mais as fezes.
Dado que, ao retirar o tratamento, a diarreia reapareceu ao fim de três semanas, os investigadores incluíram uma mudança de dieta húmida para seca, repetindo o tratamento com tilosina. Após um período de acompanhamento de três meses, observaram que a combinação de tilosina e dieta constitui um tratamento eficaz para controlar a diarreia crónica nos cães.
Outro estudo realizado na Faculdade de Veterinária da Universidade de Helsínquia (4) focou-se em detectar a dose ideal de tilosina para o tratamento da diarreia em cães. Analisaram 15 cães com DRT que tinham reagido favoravelmente a uma dose de 25 mg/kg de tilosina por dia durante sete dias. Após se ter dado uma recaída, um grupo recebeu uma dose de 5 mg/kg e outro uma dose de 15 mg/kg, sempre uma vez por dia durante uma semana. Os resultados mostraram que 93% dos cães que reagiram bem à primeira dose, também respondem bem à dose mais baixa para o tratamento da recaída.