Anemia não regenerativa em gatos: sintomas e causas
Características da anemia
Define-se por anemia a diminuição do número de eritrócitos no sangue, do volume que ocupam na hemoglobina dentro dos eritrócitos ou da concentração de hemoglobina presente nos glóbulos vermelhos, bem como a diminuição do transporte de oxigénio para os tecidos do organismo do animal1.
A anemia em gatos é uma das alterações hematológicas com mais destaque dentro da prática clínica veterinária, quer pela sua frequência, quer pela severidade dos seus sintomas, sendo de vital importância conhecer as causas que a originam, bem como o seu quadro clínico e possíveis métodos de atuação e resolução.
Classificação e etiologia
Existem diferentes tipos de anemias com diversas classificações em função da causa primária ou da resposta (ou ausência dela) por parte da medula óssea, entre outras classificações. Se levamos em conta este último fator, podemos classificar as anemias em:
- o organismo do animal afetado apresenta uma resposta da medula óssea, e desta forma perde mais glóbulos vermelhos do que aqueles que consegue regenerar. Mesmo assim, a medula tem capacidade para sintetizar novos eritrócitos.
- Não regenerativas: sendo mais grave e de pior prognóstico do que a anterior, com um tratamento mais prolongado no tempo, caracteriza-se pela perda de funcionalidade na medula óssea, o que pressupõe uma disfunção na regeneração dos eritrócitos.
As anemias não regenerativas costumam constituir sinais clínicos secundários a uma doença crónica, como a doença renal (pela diminuição da eritropoietina) ou doença endócrina (como o hiperadrenocorticismo), bem como carências nutricionais (sendo importante a deficiência de ferro), hipoplasia da medula óssea (devido a agentes infecciosos como os causantes de leucemia e imunodeficiência felina, alterações imunomediadas ou síndromes mielodisplásicos).
Num estudo2 de 1098 amostras sanguíneas de gatos com anemia observou-se que a maioria delas foram classificadas como anemia não regenerativa. As anemias mais graves eram aquelas dos gatos com anemia regenerativa. Adicionalmente, o estudo avalia a relação da anemia com a concentração de creatinina sérica.
Sintomas da anemia não regenerativa e abordagem diagnóstica
Os sinais clínicos da anemia não regenerativa podem ser gerais e inespecíficos, como é o caso da letargia, anorexia ou palidez das mucosas, taquipneia, dificuldade respiratória, alterações do pulso e da frequência cardíaca.
Por outro lado, as anemias (quando possuem natureza crónica) produzem geralmente um quadro clínico assintomático pela adaptação fisiológica da alteração à doença que origina, sendo comuns os sinais clínicos característicos de cada uma das alterações mencionadas anteriormente.
Focando-nos neste tipo de anemia, o diagnóstico baseia-se principalmente na interpretação dos dados do hemograma realizado ao paciente, sendo necessário fixar-se no IPR (índice de produção de reticulócitos), sendo este inferior a 1.
Pelo facto de não existir síntese de novos reticulócitos a anemia será normocrómica e normocítica, de tal forma que se poderá realizar uma mancha sanguínea para comprovar esta observação, sendo os glóbulos vermelhos de tamanho uniforme com ausência de células policromáticas.
Para estabelecermos um diagnóstico preciso, será necessário realizar serologias das principais doenças infecciosas causantes de anemia não regenerativa, como é o caso da imunodeficiência e da leucemia felinas, bem como de outros agentes infecciosos como a Ehrlichia.
Conclusão
A anemia não regenerativa nos gatos é uma alteração crónica com um diagnóstico impreciso, e que normalmente é produzida por uma doença que se prolongou no tempo, a qual disfarça os sinais clínicos próprios das anemias. Constitui um processo patológico que requer um bom diagnóstico para se poder instaurar um bom método de tratamento ao paciente, melhorando assim o seu estado de saúde.
1. FIDALGO LE, REJAS J, RUIZ DE LOPEGUI R, RAMOS JJ. DOENÇAS ERITROCITÁRIAS. EM: FIDALGO LE, REJAS J, RUIZ DE LOPEGUI R, RAMOS JJ. PATOLOGIA MÉDICA VETERINÁRIA. ED. UNIVERSIDADE DE LEÓN, UNIVERSIDADE DE SANTIAGO E UNIVERSIDADE DE ZARAGOZA; 2003. P. 163-168.
2. FURMAN E, ET AL. A RETROSPECTIVE STUDY OF 1,098 BLOOD SAMPLES WITH ANEMIA FROM ADULT CATS: FREQUENCY, CLASSIFICATION, AND ASSOCIATION WITH SERUM CREATININE CONCENTRATION. J VET INTERN MED. 2014 SEP-OCT; 28 (5): 1391-7.
