Eczema em cães: tratamento e revisão da doença
Aproximação diagnóstica
Antes de podermos instaurar um tratamento adequado para o eczema cutâneo em cães, é necessário definir e identificar o problema primário que causa os sintomas visíveis. Uma vez clarificado e detectado o problema, iremos proceder à identificação das lesões e à localização das mesmas no animal, obtendo desta forma uma aproximação clínica baseada numa abordagem mais global da situação1.
Conhecer o historial clínico e os antecedentes do cão, bem como a realização de exames físicos e exames complementares (citologia, raspagens, tricogramas, culturas bacterianas e fúngicas, biópsia) será de grande ajuda para o estabelecimento de um diagnóstico e o seu correspondente tratamento.
Clinicamente o eczema cutâneo no cão apresenta uma sensação de incómodo aguda no paciente, que pode prolongar-se no tempo e tende a ser recorrente. Esta sensação desagradável provoca comportamentos no cão, tais como coçarem-se ou morderem as zonas sensíveis, produzindo lesões mais profundas e de maior extensão ao longo da pele.
Antes de instaurarmos qualquer tratamento antibiótico, será necessário realizar uma cultura bacteriana e um antibiograma por forma a estabelecer uma pauta antibiótica específica para o animal e para a lesão concreta que o mesmo apresenta. Desta forma, iremos obter resultados mais favoráveis e evitar-se-á o desenvolvimento de resistências a antibióticos no paciente.
Tratamento
Tanto o aspecto como a integridade da pele são influenciados por fatores sistémicos como o estado nutricional, o nível hormonal, o estado de vascularização e de perfusão sanguínea, de tal forma que antes de estabelecer qualquer tratamento para a resolução do eczema deveremos controlar a causa primária que o está a provocar (transtornos hormonais, dermatite atópica ou dermatite alérgica, entre outras).
O tratamento do eczema pode ser a nível local e a nível sistémico, dependendo da extensão e gravidade dos sinais clínicos.
Para o tratamento local será necessário raspar a zona afetada, por forma a se conseguir uma maior exposição da lesão e evitar que os pêlos circundantes possam contactar com o eczema e atrasar a sua cicatrização.
Após a zona ser depilada, deve proceder-se à lavagem da ferida com soro fisiológico para eliminar toda a sujidade possível, por forma a evitar complicações como infeções secundárias. A zona lavada será desinfetada localmente com recurso a produtos como a clorexidina ou soluções iodadas diluídas com água, entre outros.
Se a ferida for superficial, apresentar uma gravidade relativa e estiver centralizada, poderão empregar-se antibióticos tópicos de amplo espectro sob a forma de pomadas, para evitar o supercrescimento bacteriano na zona em questão, onde os princípios ativos escolhidos como primeira opção serão: amoxicilina-ácido clavulânico, cefalexina, clindamicina ou sulfamidas potenciadas com trimetroprim, com uma diretriz mínima de duas semanas de aplicação.
Nos casos em que o eczema seja generalizado ou afete camadas profundas da pele, deverão utilizar-se antibióticos sistémicos de amplo espectro por forma a evitar as infeções secundárias, onde o antibiograma é obrigatório para escolher o antibiótico que será mais eficaz, e que será administrado durante um período mínimo de 6 semanas, para se conseguir assegurar o êxito do tratamento. As quinolonas ou o marbofloxacino são antibióticos de amplo espectro que se podem utilizar no caso de ser necessário realizar terapia empírica devido à gravidade da situação.
No caso de existir prurido poderá utilizar-se corticoterapia local (baseada em pomadas tópicas) ou sistémica (seja por via oral ou intra-venosa), para reduzir a sensação de incómodo no animal, bem como a realização de banhos com champôs específicos para a redução da mesma. Os anti-histamínicos podem ser muito úteis se a causa primária for do foro alérgico.
As pomadas cicatrizantes à base de mel podem constituir uma boa opção para acelerar a cicatrização da ferida, sempre que não existam infeções secundárias nem afete a lesão em camadas profundas.
Conclusão
Os eczemas em cães são lesões que podem desenvolver-se como consequência de outras patologias a nível hormonal, alérgico, auto-imune ou vascular, de tal forma que para se instaurar o seu tratamento será necessário primeiramente encontrar a causa primária que origina estas lesões, e após isso combinar a terapia tópica com a sistémica, em função da gravidade da alteração.